escrevendo uma nova forma de pensar

Onde estão as mulheres negras em diáspora? Estão protagonizando e autodeterminando suas vidas? Os processos de criação estão suleados em nossas epistemes? Ao pensar a subjetividade da mulher negra, reunimos dois fenômenos: o racismo e o sexismo. Somos fruto do holocausto escravista, somos alvo de múltiplas violências com nossos corpos marginalizados, silenciados e objetificados. Mas nossas fontes tem raízes profundas, YRIÁDOBÁ DA IRA À FLOR faz o convite para sedimentarmos em nossas baobás. É momento de organização e mobilização. É como diz Molefi Kete Asante: “Quando povo negro tem seu ponto de vista centrado, tomando nossa própria história como centro; então, nos enxergamos como agentes, atores e participantes ao invés de marginalizados na periferia da experiência política ou econômica.”

                  Sobretudo, para pensar ações de saúde mental para a população negra, ações que cuidem das feridas causadas pelo colonialismo, é necessário integrar a arte ao cuidado, principalmente a arte nascida em sua negrura, carregada de axé, que compartilham experiências ritualísticas e curativas. E que os espaços psicoterapêuticos se tornem mais acessíveis às mulheres negras, acolhendo suas identidades e experiências. Pois à partir dos encontros de mulheres negras com outras mulheres negras, reconhecemos a necessidade de um olhar de quem carrega na ancestralidade essas marcas e assim reconhece o caminho do cuidado nas nossas raízes sagradas, devolvendo o sentimento de pertencimento. 

Neste contexto, a atriz, performer e escritora Adriana Rolim apresenta o livro/espetáculo YRIÁDOBÁ DA IRA À FLOR que nos mostra a matrilinearidade entre avós, mães e filhas, é a rainha de 346 mulheres, ela é a Grande Mãe das vaginas humilhadas, dilaceradas, estupradas. Ela desloca a dor em seu peito, com a força da fragilidade, refaz a narrativa e recria o mito. Traz consigo o sopro de milênios e dá corpo às aparições da subjetividade feminina contemporânea com seus ossos de uma fratura que sangra e lateja, revelando o impacto do imperialismo ocidental no inconsciente coletivo, denunciando os sofrimentos das mulheridades silenciadas, invadidas, feridas, das negras, enlouquecidas, que cometeram suicídio num ato de ira, fuga e coragem.

SERVIÇO

Local: UERJ - COART

Rua São FRancisco Xavier, 524 - Maracanã o Rio de Janeiro - RJ

Dia: 20 de setembro de 2019

Horário: 16 horas