Temos orgulho em apresentar o livro "17" da escritora Ana Luiza Libânio que, em sua estreia como contista, apresenta 17 textos em primeira pessoa, narrados por personagens surpreendentes e reais. Ao investigar as fronteiras entre gêneros literários e identitários, a autora escrevive existências de sujeitos possíveis, considerando questões existenciais e sociais. Os leitores encontrarão histórias de suspense, humor, drama e amor, narradas de modo delicado, áspero, poético ou ágil, a partir de um olhar arguto e preciso.
Ana Luiza Libânio, mineira de Belo Horizonte/MG, é escritora, roteirista e tradutora. É graduada em Letras pela UFMG, mestre em Literatura e especialista em Estudos de Gênero pela Ohio University. Publicou o ensaio Autonomous Sex (LAP Lambert Academic Publishing, 2010), o romance A história de Carmen Rodrigues (Ser Mais, 2014), além de textos diversos em coletâneas.
Conheça um pouco mais a autora e sua obra na entrevista abaixo:
17' é um livro composto por textos com diferentes gêneros literários, o que te levou a construir uma obra tão diversa? Foi algo planejado?
Meu encanto pela diversidade me fez decidir, quando comecei a escrever contos, que criaria textos distintos. Eu queria explorar diferentes formas. Pensei: “e se eu escrevesse um conto que tivesse o formato de um roteiro ou de um poema?” Assim, pensando no conceito de uma narrativa curta, com um protagonista e um incidente central, brinquei com a forma. Sinto que é o pensamento que tenho em relação ao mundo transposto para minha criação literária. Ou seja, existem formas que nomeamos, mas o fato de termos dado a elas nomes não significa que sejam imutáveis. Podemos alterá-las e até mesmo desconstruí-las. É o que o Design faz — existem várias formas de construir uma cadeira, por exemplo.
De onde vêm os personagens de tuas histórias? São eles que te capturam ou é o enredo?
Todas as personagens que já escrevi estão vivas. São pessoas reais que vivem dentro de nós. Eu as encontro na rua, no metrô, no mercado, em salas de espera… na minha própria casa! Um dos meus mestres um dia me falou para sentar e ouvir a personagem. Aí entendi que é necessário escutar mesmo, ou seja, é preciso desapegar de sentimentos, de verdades, de conceitos e deixar a voz da personagem falar mais alto. Então, as personagens me capturam e me contam uma história que conto para leitores. E aí me apego a elas. Sonho e converso com elas! Ao ponto de escrever muita coisa que eu mesma não faria ou diria.
Dentre os 17 contos, qual tem um sentido especial pra vc?
Difícil dizer! Todos são bastante significativos. Gosto da trilogia “Barba, unhas e cabelos” porque desafio a essência das personagens. “Azar no jogo, sorte no amor” é especial por ser um conto dedicado à namorada que hoje é minha esposa — é pura ficção, mas as entrelinhas trazem alguns quês de verdade! Ah, Jack e Brigitte (que não é a Bardot)! Existe uma história por trás desses personagens: ela era um manequim de um brechó por onde eu passava quase todos os dias; ele, um sujeito que criei para ser um grande amor. Aconteceu que os dois se encontraram e se apaixonaram, e aí deu no que falar! Só que viveram “um amor que não se conta”, porque alguns amores só podem ser vividos. Escrevi um dos contos andando, quando saí de uma sessão de análise — não vou dizer qual é; deixo vocês descobrirem! E a tetralogia de suspense é um estudo muito importante para mim, porque foi um treinamento para o romance no qual estou trabalhando. Como os últimos serão os primeiros, vou citar agora “O povo brasileiro” — essa gente diversa e muito especial com quem compartilhamos o dia a dia —, um conto em três atos baseados em histórias reais. Não falei de quatro contos, mas isso não significa que eles não sejam tão especiais quanto os que mencionei — aliás, um destes escrevi com na companhia de minha filha, só que ela não se lembra disso!
Qual é o papel da literatura em tempos de patrulhamento moral?
A literatura liberta. Ela aumenta o horizonte e nos permite ver paisagens diferentes das que já estamos acostumados a olhar. A literatura mostra outros pontos de vista, ou seja, outros lugares de onde a vida pode ser observada e onde pode ser vivida; ela nos proporciona aprendizado sobre as diversas vidas vivíveis, algumas das quais nem imaginávamos existir. Escrever a diversidade é “burlar” o sistema que nos molda para favorecer o consumo de produtos, ideias, comportamentos. Por isso é tão importante que a literatura represente o quão diversa é a natureza humana. A literatura deve dialogar com a realidade e questionar — sempre — esse patrulhamento.
Complete a frase: "Escrever é uma forma de...
estar em contato com vidas diversas, porque além de nos conectarmos com personagens, ao escrever, criamos uma ponte entre o Eu autor e o Outro leitor. Escrever é viver. A escrita pede coragem. Ela pulsa dentro de nós. Escrever é uma forma de manter experiências vivas.
Sabe como sei que sou escritora? Eu preciso escrever para me sentir viva.
Conheça o livro: http://loja.quintaledicoes.com.br/pd-546767-17.html