Escrever o livro "Diamante no acrílico: entre a vida e o melhor dela" foi pra mim uma espécie de retribuição por tudo o que minha filha e minha esposa passaram e venceram. Um agradecimento para Deus e para todas as pessoas que de alguma forma se preocuparam com nossa família na ocasião dos fatos e procuraram de alguma forma se fazer presente em nossa vida emanando positividade, doando sangue e expressando a fé através de preces - cada um em sua crença particular.
A motivação principal em dissertar essa história real e divulgá-la para o mundo vem principalmente da vontade em ajudar o próximo que passa por algo semelhante ao que passamos.
Certo dia, quando a Laís já estava em casa e vencendo as dificuldades dia após dia, acordei com uma sensação forte de missão a ser cumprida. Algo inexplicável que não me coube questionar muito, era só executar e pronto mesmo sem nem saber por onde começar.
Tornei-me jornalista, passei por uma história difícil e incrível e, sabendo que outras pessoas estão, estiveram ou estarão em situação semelhante, vi que através da escrita poderia contribuir um pouco no aspecto emocional de pais que hoje sofrem com filho internado, independente de ser prematuro, ou até mesmo cooperar com pessoas que passam qualquer dificuldade comum a nós adultos diariamente.
O intuito é levar uma palavra considerada até clichê, como "Depois da tempestade vem o sol", ou coisas do tipo, sabe? Não é autoajuda - até por não me achar bom suficiente para tal audácia. "Diamante no acrílico" foi feito para ser um abraço, um colo ou um ombro a quem precisa daquele "Eu venci e você vai vencer também. O impossível não existe pq o amor constrói sim pontes indestrutíveis!", entendeu?
Tive muita positividade chegando de todos os lados quando estávamos na UTI adulta com minha esposa e depois na Neonatal com minha filha, e esse agradecimento precisava ser revertido ao mundo de alguma forma que não sabia como e vi que este tipo de formato (livro) seria o ideal para expressar os sentimentos engasgados de conquista.
A obra, claro, também não deixa de ser uma homenagem à minha filha Laís, que passou a ter um dos momentos mais importantes de sua vida registrados para a eternidade. E como uma das coisas que mais desejo é que ela ame sua vida e aproveite-a ao máximo seguindo sempre o próprio coração (ou até mesmo razão), nada como fazer um trabalho que poderá ser uma espécie de estrela guia para que ela possa no futuro olhar, se refletir e aprender amar sua vida ainda mais, valorizando cada conquista e respeitando cada situação que for sendo vivenciada em sua trajetória particular.
Depois que a obra começou se desenhar em minha cabeça fiz uma pesquisa na memória e fui estruturando capítulos e estabelecendo cronograma para cada passo, já que isso é o que me guiaria até a realização deste que tornou-se mais que um sonho: era minha missão e eu precisava devolver ao mundo o que me conspirou a favor e precisava testemunhar o milagre de Deus também como reconhecimento ao próprio.
Qualquer um pode escrever um livro e isso é algo fantástico. Inclusive isso foi uma descoberta para mim isso também, já que é a primeira experiência que tenho com esse tipo de mídia. O livro eterniza o escritor. Daqui a 80 anos - quando não o autor não estiver mais por aqui - alguém ainda vai ler, se emocionar e utilizá-lo como referencia. Os filhos, os netos e os bisnetos da minha filha vão se identificar com o legado dela, e dinheiro nenhum no mundo paga isso. O livro educa e repassa os nossos valores também.
Bom... fazer seu texto virar livro depende apenas de si, embora para muitos parece um sonho muito distante, concorda? Mas óbvio que pra mim também era algo remoto até o "Diamante no acrílico" virar realidade. Quer escrever seu livro? Não desista. Estruture, estabeleça prazos, leia muito, estude o mundo que envolve a literatura, faça contatos e corra atrás. Aliás, não espere por ninguém quando quiser realizar um sonho, até porque ninguém terá pelo seu projeto o mesmo carinho que você. Quer fazer? Vá e faça, a realização é certa e o impossível é uma palavra que foi criada pelos fracos para tentar amedrontar os fortes.
Voltando... em alguns momentos pensei em desistir não pela dificuldade em lançar a obra, mas, sim, pelo peso em vivenciar uma coisa que me fez tão mal à época.
Não foi nada fácil abrir um baú que já havia sido trancado. No entanto, cada vez que escrevia chorando e pensava em parar, lembrava-me de pais que estavam na UTI e que poderiam voltar para casa com a fé renovada graças à nossa história. E isso que me fez terminar de fato, nada mais.
A busca por uma editora também é um trabalho árduo e ver o trabalho pronto sem possibilidade de lançá-lo é algo que dá receio. Propus um Financiamento Coletivo e infelizmente não consegui adesão necessária para lançá-lo de forma independente. Na plataforma Kickante expliquei os objetivos, que incluía doar livros às UTIs Neonatais, porém, "meia dúzia" de gatos pingados foram lá e investiram um valor. Apesar de não ter sido o suficiente, sou eternamente grato e guardo na memória os nomes de quem contribuiu e teve posteriormente o dinheiro devolvido pelo não atingimento da meta.
A Metanoia Editora apareceu em um momento que talvez eu já estivesse engavetando o livro. A dona da editora, Lea Carvalho, fez contato comigo e apresentou uma proposta que acabou suprindo minhas necessidades daquele momento, então, agradeci e recusei outra proposta de outra editora que havia recebido e assinei contrato com a Metanoia Editora, do RJ, e o livro foi lançado pelo selo Mundo Contemporâneo Edições, vendo que a Metanoia possui um trabalho muito mais forte junto ao público LGBT.
Sou grato demais à Metanoia na figura da Lea e da Malu, duas pessoas que acolheram e respeitaram demais minha história e enxergaram além de um cifrão ou um simples trabalho literário em "Diamante no acrílico". Elas enxergaram coração na obra, verdade nas palavras e entenderam qual a real ideia que eu tinha desde o início: Ajudar os que precisam se fortalecer emocionalmente.
Antes de sermos jornalistas ou editores, somos humanos, e isso faz toda diferença para quem deseja ser abençoado. Obrigado, meninas.
Laís, a minha filha, venceu a prematuridade, está crescendo linda, saudável e assegura o testemunho mencionado no livro. Minha esposa, Fabi, também venceu os problemas que nos levaram à interrupção da gestação na 29º semana e leva sua vida com normalidade. O livro está à venda e caminhando dentro das minhas expectativas que, aliás, nunca esteve mergulhada no utópico sonho de 'best-seller' até por entender e saber que disponho de um público-alvo muito bem definido e formado por uma parcela considerada minoria.
No geral é isso, são muitas batalhas a serem vencidas diariamente. A primeira foi vencer os problemas, a segunda foi escrever o livro, a terceira foi lançá-lo e agora a luta é para divulgá-lo e distribuí-lo para que os exemplares cheguem às mãos certas. E vamos em frente fazendo o melhor com humildade, pé no chão e vontade de ajudar sempre. Prematuridade: A luta continua e a causa também passou a ser minha.
FERNANDO GUIFER é pai da Laís, aluno da vida e atua como jornalista desde 2005.
Autor de "Diamante no acrílico: entre a vida e o melhor dela", em 2015 tornou-se embaixador no Estado de SP da ONG 'Prematuridade.com', uma das maiores referências sobre o tema no país.
Fale com o autor: diamantenoacrilico@gmail.com