Autora: Luciana Guerra Malta
Princípio de 1997. Lívia, uma brilhante pianista e maestrina brasileira de 29 anos que vive desde os 18 anos em Paris, resolve voltar ao Brasil depois de quatro anos sem pisar no país. Ela vem para uma temporada de 45 dias, misto de férias e trabalho. Mas vem também para fugir de Franca, com quem vive há dez anos uma relação que parece mesmo ter chegado ao fim: “E o meu amor, do qual nunca tive certeza, pareceu se evaporar de uma hora para outra”. Hospedada no apartamento dos pais, na Avenida Atlântica, deleita-se ao reencontrar o luxo sob o qual vivia antes de ir para a Europa e não consegue deixar de se envaidecer pelo tratamento VIP que recebe da imprensa por ser bem-sucedida no exterior. Anima-se, também, com o interesse sexual que desperta. Interesse, na verdade, com o qual já está acostumada a lidar: “Aonde eu chego, homens e mulheres se alvoroçam. Nas orquestras corre logo o boato sobre a “versatilidade” da jovem pianista”. Na sequência de experiências, ela vai para a cama com um ex-namorado e se pega sonhando com um casamento tradicional; aceita ofertas para compor trilhas sonora e adia a volta para a Europa; discute com Franca à distância; passa sua vida em revista ao reencontrar amigos e amantes; conquista homens e mulheres e se questiona sobre a própria capacidade de amar; revolve feridas na relação com a família – sobretudo, o assédio do pai na adolescência; reflete sobre o papel de heterossexual convicta que representa para os familiares e para seu círculo imediato. Enfim, no contato com as delícias e as mazelas do Brasil, ela vai se sentindo cada vez mais dividida entre seu país de origem e o lugar que elegeu para viver: “Tudo é tão misterioso, tão sinuoso por essas ruas irregulares e intransitáveis... Há tantos oásis nessa cidade insuportável, tantas maneiras de relaxar e esquecer de si...”. Aos poucos, Lívia descobre que, quanto mais tenta esquecer Franca, mais sente falta de seu amor e quanto mais enxerga defeitos no Brasil, mais cresce seu sentimento de brasilidade e seu desejo de ficar no país. Por fim, conclui: “Liberdade não é um sentimento, mas uma condição. Liberdade é estar no lugar onde se quer ficar”.