As desigualdades raciais são inerentes ao processo de formação histórica, cultural, social e econômica do Brasil. Um dos grandes espaços por onde essas discrepâncias reproduzem-se e manifestam-se é o mercado de trabalho. Sua formação insere-se no contexto de acumulação primitiva do capital, ainda nos séculos XVI e XVII, fruto da colonização implementada na América Latina. Esse processo sucedeu a partir da distribuição populacional, segundo conceitos racializantes e de distinção de gênero, os quais realocavam subjetividades em nichos de trabalho escravocratas, servis, subalternos e opressores. Essa estrutura mercadológica do rearranjo da força de trabalho como projeto colonial capitalista, segundo as categorias raça e gênero, é fruto do padrão histórico de poder, ou seja, do sistema de controle e dominação, fundado a partir da subvalorização de indivíduos, principalmente, da mulher negra. Nesse sentido, as relações de trabalho constituem-se relações de poder que trazem consigo as marcas da exploração sobre corpos negros femininos, ainda presentes na sociedade brasileira. Uma das vias de análise desse processo contínuo e histórico é perceber como o mercado comporta-se ao atribuir, na perspectiva decolonial, valor à força de trabalho da mulher negra. As diferenças remuneratórias entre ela e os demais segmentos sociais, quais sejam, homens brancos, mulheres brancas e homens negros, parecem ser inerentes ao desenvolvimento do capitalismo nacional brasileiro e, por isso, torna-se objeto da presente investigação. A partir dos conceitos esboçados por Aníbal Quijano, MaríaLugones e Márcia Lima, pretende-se, como objetivo geral, explicitar o fenômeno social das distinções laborais refletidas nas diferenças salariais das trabalhadoras negras do Brasil. Além disso, pretende-se, como objetivos específicos, descrever sobre os conceitos colonialidade do poder e colonialidade de gênero como marcos para a pesquisa; investigar a relação entre raça e trabalho no Brasil; analisar dados e estatísticas que comprovem a diferença salarial das trabalhadoras negras no Brasil; e construir reflexões acerca da desvalorização dessa força de trabalho. Ao fim, permite construir reflexões sobre o “lugar” social e mercadologicamente definido para o feminino negro no mercado de trabalho brasileiro, sob a perspectiva decolonial. Com base no mapeamento estatístico, foi feita a sondagem da série histórica de vinte anos (1995 – 2015) sobre as discrepâncias dos quantitativos médios percebidos pelos grupos sociais, tanto sob o enfoque da formalidade quanto da informalidade e, especialmente, do trabalho doméstico. Esses dados bibliográficos, cruzados com os dados quantitativos, permitiram a análise do fenômeno. Os resultados do cruzamento dos dados bibliográficos com os quantitativos evidenciaram que em todos os setores estudados as mulheres negras recebem menores rendimentos do que todos os demais agrupamentos populacionais, sendo, portanto, a base do sistema capitalista.