Este livro analisa como os três filmes Anahy de las Misiones; Netto perde sua alma; e Netto e o domador de cavalos buscam construir uma identidade gaúcha e um discurso sobre a Revolução Farroupilha. Essas obras seriam o produto de uma visão sobre o assunto por parte dos seus realizadores, em determinada época e contexto histórico, no caso, a "Retomada" do Cinema Nacional.
A obra destaca a relevância de alguns teóricos no estudo sobre cinema-histórica, tais como Marc Ferro e Robert A. Rosenstone.
Ferro, nos anos de 1970, na França, foi um dos primeiros a entender cada filme como produto de uma época e, portanto, documento necessário para a compreensão do contexto no qual foi produzido. Também, em alguns casos, seria uma “contra análise” da sociedade, pois a obra utiliza elementos não tão observados no discurso estabelecido por parte dessa sociedade sobre um determinado tema histórico.
Por sua vez, Rosenstone compreende o cinema como um produto cultural visual, considerado como um documento histórico. A obra fílmica tem a validade de uma fonte histórica e, também, constrói um discurso, tornando-se um criador de sentidos para o passado, assim como ocorre com um documento escrito.
O livro também aborda a questão da produção da memória nos filmes. Como arcabouço teórico, utiliza, principalmente, Espaços de Recordação, de Aleida Assmann. A obra fílmica funciona como formadora de memória de duas formas: intrínseca e extrínseca. O primeiro termo diz respeito ao discurso proferido no filme pelas personagens para criar uma narrativa acessível ao público que assiste à obra. Já o segundo, se refere ao momento em que o filme se transforma em documento acessível ao grande público, caso essa audiência queira conhecer ou recordar o que seria essa Revolta.
Outro assunto abordado trata de como a iconografia disponível sobre a Revolução Farroupilha ajuda na escolha de figurinos, caracterização de atores e outros elementos construtores de um filme. A imagem tem um fator social e, muitas vezes, representa um pensamento vigente ou uma forma de enxergar o mundo, sendo construtora de uma ideologia do grupo produtor daquele conteúdo audiovisual para o público receptor da mensagem. Uma espécie de materialização da intenção de cineastas e diretores sobre o assunto abordado em cada filme.
Por isso, nada mais oportuno do que a utilização das três obras e das análises contidas nesse livro para entendermos como esse episódio da história do Rio Grande do Sul e do Brasil é construído na forma de arte para o grande público.